quarta-feira, 31 de agosto de 2011

De Pó e de Poesia XXXIV


Respirar gotas de chuva...

Existem pessoas em profusão despejando palavras por aqui. Reclama-se da chuva, mas se faz sol todos se cansam também. As ruas prejudicadas pelo excesso de gotas caídas de nuvens comuns, transformam-se em mais um lugar comum, em bocas irritadiças. São tantos discursos parecidos, cansativos, previsíveis... Tantas normalidades na representação das personagens. As máscaras servem em cada rosto com toda a pompa e circunstância merecida. Livros ultrapassados despejados sobre tantas mesas sucateadas de um universo qualquer. As canetas falham reclamando todas as vezes que me pego revirando as situações ao meu redor. A guarda do banco que tinha olhos claros e me olhava com simpatia... O ex-aluno que eu encontro na calçada em meio à roda de amigos exalando anéis de fumaça cumprimenta gesticulando com as mãos... A banda das homenagens cívicas que virão quando setembro chegar, batuca em meus ouvidos... Na boca dos alterados "absurdo" é uma palavra doce, repetitiva e quase entediante... Mesmo diante do aparente caos eu posso sorrir... Tudo parece tão nítido e leve... A ternura está em meus olhos mesmo que a paisagem não seja feita dela... E, então, eu escrevo e a poesia é mais ou menos assim...

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Respirar
Aquecer o corpo
Seguir as pétalas perdidas da flor
Respirar
Sentir-se morto
morto para o mundo e vivo para o amor
Respirar e expirar
Refletir, pensar
Há algo de incomum na respiração
Há algo de melhor na ilusão
Há algo de lentidão na espera
Mas a espera é minha quimera
meu sopro de anoitecer
minha ânsia de amanhecer
Uma estrada ao acaso
Um descuido, um descaso
É assim que é a espera
Como um caminhar vagaroso
Ciclo vicioso
Abstinência sem te encontrar
Em ausência a desejar
Tem cor como um desejo
Como o furto de um beijo
que precisa de janela
Tem cheiro de canela
nos sachês que perfumam a mala
Melhor calá-la
Ninguém precisa gritar ao mundo
o que é melhor sussurrado ao ouvido
Uma dezena e um dia?
Eu respiro harmonia
Tem ternura em algum lugar do espaço
O calor se perde em abraço
Pessoas falam da capital
e em uma ilha de calor
Isso é cada vez mais real
É cada vez mais avassalador
surpreendente respirar
Eu nunca tive vontade de fugir
depois de você chegar
Eu nunca tive medo de segurar
a mão que você me estendia
Sim... Eu sinto saudades
de cada palavra dedicada
Sim... Existe vaidade
na necessidade de ouví-las
no prazer de sorrí-las
existe expectativa com endereço
nem sei se mereço
mas tenho hora e local
sonhos e verdade tornada real
tenho anoitecer
agora tenho madrugada
tenho motivo e estrada
e certeza
que a beleza dos versos
se fará em gestos
intensidade
respirar
vontade
de ficar...
sei que um dia sentirei
saudade com razão
mas enquanto você não chega
saudade é letra de canção
que me faz coração andante
que me faz alma pulsante
que me faz sentimento errante
quem sou eu? quem é você?
partes divididas de um mesmo ser...

2 comentários:

  1. Mesmo desacreditado e ignorado por todos, não posso desistir, pois pra mim, vencer é nunca desistir, seus pensamentos exalam verdadeira fonte de vida... te adoro abraços da amiga andressa...

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  2. Obrigada pela gentileza da leitura e pelo tempo de fazê-la... Não há luta que não se faça de julgamentos. O segredo está em colher pedras contrárias e construir escadas... Mais uma vez obrigada meu anjo...

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