quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Amor em pares: Sobre Laura e Arthur VIII


Abismo do Sonho...

Um choro baixinho acordou o pesadelo de Arthur... No meio da queda que a areia fugidia destinara a seus pés, ele acordou... A respiração rápida, o coração afoito, o soluço... Precisou parar um instante para tentar reconhecer na sonoridade da lamúria a sua própria voz... Os olhos desacostumados à escuridão não estavam tão desacostumados assim. O abismo do sonho tivera fim com aquele despertar inesperado? Ele sentia que não... Suas quedas nunca foram passos de dança... Seus fantasmas nunca foram apenas sonhos... Na madrugada do deserto coração, a rua reclamava não tão baixo quanto o choro... Não tivesse ele sido despertado pelo pesadelo e jamais teria ouvido os estalos do assoalho... Sons surdos, compassados e marcados: havia alguém ali... E esse alguém não era Arthur... Poderia ele pensar em se proteger... Mas, para que? Ele não tinha nada a perder, não tinha nada a ganhar, nada a oferecer... Quem se importaria? Se por trás da porta houvesse um ladrão, o que ele roubaria? Sua vida ou sua alma? Talvez, nem isso houvesse mais naquelas paredes frias que reproduziam um outono chuvoso... Um outono que nunca terminava... Se por trás do ruído dos passos, por sua vez, houvesse um fantasma, eles se reconheceriam clones um do outro... Passo ante passo, o pijama cinza envelhecido, como a alma de Arthur, arrastou a figura magra pelos cômodos obscuros da casa. O arrepio percorria o corpo como um aviso... Algo lhe atraía ao quarto, onde a parede branca sofria a transformação... Um ruído mais forte agrediu a audição morna de Arthur... Os passos apressados tropeçaram no velho tapete e ele viu... Já não sabia porque a sua imaginação lhe pregava tantas peças, nem separar loucura de realidade. Se é que havia possível separação... Mas havia muitas outras coisas que ele sabia... As imagens e projeções podiam ser mais reais do que ele julgava acreditar que fossem. A janela lilás que abraçara anos de espera eternizada no retrato, estava aberta. Ele se aproximava para fechá-la quando o primeiro trovão ressoou como bomba destruindo a falsa calma que o envolvia... A chuva fina virou tempestade, a expectativa da vista virou saudade... Ele retornou ao quarto e recolheu-se ao cobertor... Na madrugada que não amanhecia, do outono chuvoso que nunca findava, os trovões combinaram-se a soluços. Quando uma aparente manhã tocou as cortinas do quarto insone em que ele se escondia, tudo parecia tão limpo, mas era só aparência... Ele caminhou à cena de suspense da tristeza anterior... A janela que ele fechara antes de fugir ao cobertor e de transpordar em gotas salgadas e soluçadas, ainda se encontrava aberta e no quarto, havia cheiro de acácia e sândalo... Era um aviso de que a alma que motivava a espera estava para voltar...

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