quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Amor em pares: Sobre Laura e Arthur IV


Cada Ser Guarda em Si...

A manhã tinha cara de terras nórdicas em dia de inverno. Fazia frio. Tanto frio que o cobertor enrolado ao corpo podia compôr a paisagem sem causar espanto. Arthur sentou-se à mesa com a caneca de café apertada entre as mãos. O solhos denunciavam a noite mal dormida. O pão adormecido de textura borrachosa não era convidativo. Mas, ele nem ligava. Na mesa dos sonhos distantes, ele ainda conservava as duas cadeiras em frente a dele. Um dia, Sara sentara ali ao lado da figura paterna que ele enterrara. Fora da janela da eterna espera fotografada, o chuvisco e o vento eram pano de fundo. ele nem ligava. Tudo parecia alegre demais para o seu sentir e ele tinha em mente apenas uma ideia fixa. O retrato da mulher de vestido florido a ser pintado na parede branca do velho quarto. Se o mundo reclamasse da bossalidade do seu gosto artístico, ele nada diria. Tanto o quarto, quanto o retrato, quanto a lembrança, quanto a mãe, quanto a saudade, quanto os dois maços entregues à mão da artista... eram problema dele. Dele e de mais ninguém... Ele não admitia, mas a moça Laura parecia tão triste. De alguma forma, ele enxergou nos olhos dela, o reflexo da dor dos seus dias de espera e das suas lembranças guardadas ao armário. revendo os fatos, agora amanhecidos como o pão deixado de lado na mesa, ele sentia-se tolo. a cada gole do café amargo, ele sentia o desconcerto que povoou a sua atitude... O fim de tarde anterior não fora bem sucedido. O rosto pálido, olhos, cabelos da artista, pareciam-se com algo que ele já conhecia. Como uma história que se repete, ou sensação de ter passado mais de uma vez no mesmo lugar. Arthur enxergou nos olhos da pequena mulher, agora pensada ao sabor do café amargo, o peso dos olhos do retrato antigo. Embora o retrato fosse antigo, a tristeza migrava pelos corações humanos como um parasita. Mas, ele nem ligava. Gostava da melancolia dos dias que todos julgavam tristes. Ele já sofrera o suficiente tentando desvencilhar-se  de dias chuvosos como aquele. Sem sucesso, chegou á conclusão de que havia muito dele naqueles dias. Agora em mente: o retrato, amoça, a mãe, a janela, a chuva, o café amargo, o pão amanhecido... Levantou em passos vagarosos, com a caneca de café entre as mãos. Caminhou até a porta entreaberta. Esticou o braço direito para sentir as gotas burlarem seus dedos e fugirem ao chão. A chuva era fina e o café era quente. A mão, também aquecida, sentir o primeiro pindo cair entre os dedos e rasgar como navalha. O corpo se arrepiou, a alma se libertou e ele viu a figura pequena esboçada no portão. Ela trazia roupas negras e pele branca. Cabelos incomodamente presos e guarda-chuvas vermelho. Arthur deixou de lado a caneca e atravessou o curto caminho ladrilhado de pedras, abrindo o velho portão e auxiliando a moça. Ela chegara: A ligação entre a parede idealizada e a sua concretização. Os dedos faiscaram ao toque. Havia lama nos calçados, frio nos dedos, arrepio no corpo, deserto na alma... Ninguém sabia exatamente o que havia entre os portão caindo aos pedaços e a porta entreaberta. Algo nos olhres misturava dor e saudade... Algo nos olhares não passava despercebido, porque cada um encontra nos olhos alheios um pouco dos elementos que já conhece dentro em si. 

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Havia um grito de tempestade no encontro das almas.... Havia um ceu estrelado nos dias nublados em que se encontraram... Ninguém entende de que dores se fez o amor... Ninguém entende com que pressa os dois de foram... Mas, nada era preciso entender... Cada ser guarda em si uma saudade que só consegue dissipar no encontro da parte que o completa... Haveria saudade nos corações em par? Não sei. Mas, sei que as dores se amaram no primeiro momento.

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