terça-feira, 25 de outubro de 2011

Amor em pares: Sobre Laura e Arthur XVII

 

Em Dias Nublados...

...As ausências em aço de navalha afiada, tasgando a pele antes de dizer a-deus... Em dias nublados de semanas inteiras... Arthur, o menino... Arthur, o homem... Acordou tantas e tantas vezes tentando encontrar o cheiro de café quente em plena manhã, a figura pequena e pálida e cantarolante, os traços de tinta envelhecendo a parede na reprodução do retrato.Ela não estava mais lá, irmã sem nunca ter sido, nem sequer amiga. Eles eram apenas um par de dores que se amaram à primeira vista... Talvez, eles já nem fossem um par... Ela sumira, já fazia uma semana inteira, sem deixar bilhete, sem deixar recado, sem deixar pistas... Ela sumira... Atravessara a rua deserta de existência de Arthur como um sopro de leveza, transformando seus dias de pijamas listrados em doces flores pequenas e perfumadas, em levezas e mariposas, primaveras e borboletas... Contagiou cidades e construiu alamedas de respirar vida... E, agora, ela simplesmente, sumira... Sem deixar rastro, sem deixar pista... No ateliê, em que antes Arthur deixara o envelope, Apenas um peso de tristeza pairando no ar, porque até aquele ambiente sentia-se a lamentar a ausência da pequena... De gotas pequenas e grandes fez-se o transbordar de sentidos, na calçada, em sujo meio fio, na fria moldura da estrada, em versos e universos. As nuvens cinzentas e uma eupção vulcânica que ocorrera a milhas dali. Arthur viu as pessoas passarem por ele, mas não pôde enxergá-las... Ouviu sons e silêncios, mas não pode entendê-los... Suplicou aos grandes relógios que decoravam torres imensas de templos antigos... Suplicou aos ponteiros que ali moviam o tempo e acariciavam a História... Implorou para que eles devolvesse as horas, os dias, semanas, meses... Choroso quis voltar à infância anterior à espera na janela, por um anjo distante que nunca voltaria... Na máquina do tempo, em telas mágicas de tele-transporte, quis voltar a olhar os mesmos olhos, sentir o mesmo brilho e sorrir novamente aquelas sensações... Deitou na calçada cimentadada e cinza, com suas roupas sempre iguais e acinzentadas... A nuvens eram cortina de cinza vulcãnica vinda de outro país latino qualquer... Ouviu os carros, os sussurros, os pássaros, o vento, a estranha chuva que caía... Ousou chorar o alívio, ousou recitar poemas apenas em pensamento... Correu mais uma vez pela avenida de outrora... Os pés descalços sem ter razão de ser... Adentrou à casa e com passos enlameados ansiou pelo quarto, da janela em que a eterna espera existiu... Quis, com todas as forças, encontrá-la de pé, sobre a cadeira, entre pincéis e tintas, cantarolando Careless Whisper... Ali nada havia... Nada além de um perfume de sândalo e saudades para fora do velho guarda-roupas... Nada além de naftalina e cheiro de guardado para o lado de dentro... Que a vida era jogo de azar, ele aprendera na ausência de Sara... Que dois raios podem, sim, cair no mesmo lugar, aprendera com a convalescência paterna... Que às vezes saudade doí mais que qualquer coisa? Isto ele aprendeu quando a pequena Laura deixou de aparecer todos os dias, quando não deixou mais pistas... Era tarde da noite e ele não dormia... Eram dias inteiros insones... A janela não era mais o ponto de espera... Se por ela Arthur pudesse divisar o anjo pequena que lhe salvara as dores, ela poderia ser a sua salvação... Mas, o outono passou e o inverno fugiu no inferno das fugas sem que ninguém percebesse... Arthur tinha saudades, tinha amores... Arthur nunca teve primaveras e, pelo visto, não seria desta vez que as coisas mudariam...

Duas semanas marcadas no calendário... Algumas palavras marcadas no diário esquecido, a cama desarrumada, as horas que se arrastavam... Isso foi tudo o que o velho grande homem teve para lembrar de sua menina...








Escrito por Darla Medeiros.
Postado por Jaquelini H. Medeiros.

Um comentário:

  1. Minha querida, é desde muito que leio esta série e devo confessar que todas estas misérias humanas que você cita em outras postagens também, parecem-me familiares... Que a luz das suas palavras continue se propagando por nossas vidas... (Rosa Maria Mendes)

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