quinta-feira, 13 de outubro de 2011

De Pó e de Poesia XLIII


Ana Clara

Inclina-se o universo pela beleza...
E a beleza não é do verso,
A beleza tem nome e tem destreza...
A mesma destreza com que prevê
a noite que se alongará...
A mesma delicadeza com que pede...
A Lua que se esconderá...
Por trás das nuvens, o céu nublou...
Ana Clara sentou...
Na estrada deserta...
Ana Clara implorou...
Por carinho e coberta...
Só um braço distante a alcançou,
Nenhuma mão acolhedora a acarinhou...
O rosto que era doce...
Talvez um dia, fora delicado...
Talvez, nada disso fosse...
Muito mais que um desagrado..
Que fizessem à menina...
Pedindo objetos cortantes...
Colhendo fruta no pé...
Descobrindo diamantes
falsas loas do que não se quer...
Quedou-se da lágrima
a gota que lavava o mundo
Quedou-se da página
a palavra que explicava tudo...
Quedou-se o frágil corpo a sentir
Quedaram-se os lábios metálicos a sorrir.
Ana esperava
Um mundo novo que nunca chegava...
Olhava para longe, nenhuma estrada
nenhuma curva, nenhuma palavra...
Sussurros do vento
previam que a solidão...
Era convés de sentimento
que abrigava o pequeno coração...
O grande coração de Ana...
Cabia na palma da mão...
E ela era tão Clara...
Palidamente rara...
E ela era tão Ana...
A visão insana...
Poética ou real...
De um mundo detrás dos sons...
Em pele suave e vestido negro...
Ela buscava aconchego...
Na escrita, quiçá nos tons...
De um moço tão perto...
que de perto fez-se distante...
E ela vestia a Lua
da sua imaginação
e ela sentia o vazio
e com o frio ele era uma sensação...
de que ninguém mais se importava...
Ana sentada chorava...
Porque na estrada nada mais havia
Ana era só pó e poesia...
Clara criança que o céu deixou na mão...
Ana era uma fotografia...
Clara era uma canção...


 

Levanta que a estrada é uma ilusão...
Para a menina com dois nomes...
O mundo era solidão...
agora é verso adverso..
imagem e contradição...
Nas gotas que salgam o rosto...
A mão que segura a mão...
Aquele ouvinte distante...
Dispara uma exclamação...
Mas nem sabe quem é Ana...
Clara menina, moça e fascinação...
Ana é  o anjo imperfeito...
Na perfeição que há em Clara...
Ana é amor perfeito
Que tropeça e pede desculpas...
É o sonho rarefeito
e todo desfeito de culpas...
Ana é flor, mas também é espinho...
Ana é amor e descaminho...
Clara que a estrada parecia...
escura em que se fez fantasia...
negra em que virou poesia...
a sombra de Ana...
E ela agora caminhava...
Era tarde e fazia frio...
De nada adiantava falar de vazio...
O espelho d'água refletia
o olhar de outro dia...
Nem discos e nem vestidos...
Nem abraços, nem lábios comprimidos...
Só versos bandidos, largados, esquecidos
Só o universo de Ana...
Só uma Clara em verso...
Porque de Ana nada havia em Clara
e de poesia rara tudo havia em Ana...
Clara era a pele branca...
Ana, a palavra estreita...
Clara o sorriso largo...
Ana a boca perfeita...
Com que desenhava sonhos...
Mãos pequenas em que se perdia...
Clara era a sua estrela...
Ana era a melodia...
que sempre falava de mar
e chamas que não se apagam...
e quando sem mais pensar...
de meu escrever indagam...
Ana Clara é duas...
Ana Clara é uma...
Ana Clara é única
mesmo sendo muitas...
De tantas Anas a mesma luz e sombra...
Do quadro antigo...
A mesma aparência rarefeita...
Que faz parecer comigo...
Tanto Clara quanto Ana...
Quanto a estrada em que se inflama...
E os amores por velar...
...
Deita, menina Ana...
Deita Ana Clara a sonhar...
Não deixe mais que os soluços...
Transformem seu sono em mar...
Mar salgado de afogar...
A dor que às vezes dói, minha pequena...
Eu sei que ela teima em transbordar...
Mas, você que é Ana Clara..
Balance as ondas do mar...
Não permita que as palavras
façam tudo transbordar.
Não deixe que os pesadelos 
na noite venham alcançar
tocar de leve os tornozelos
o seu descanso machucar...
Com o que foi errado e passou..
É hora de recomeçar...
Afogue o sonho ruim...
Afogue em ondas do mar...
Ou em poeiras da estrada,
por onde for caminhar...


(Créditos à Modelo das fotos Ana Clara e à amiga Nívea...)

4 comentários:

  1. simplesmente belíssimo! Tudo.... as amigas, a poesia, as imagens...enfim...completa harmonia!!!!

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  2. AAAAAAAAAAAAH, mas ficou MUUUUITO lindo, Darla *-*

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  3. Não sei se essa Ana realmente existe, mas imagens e poesias completaram-se de forma belíssima... Adoro suas prosas e suas poesias... Como pode?

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  4. Esta Ana é a moça que está nas fotos que ilustraram a poesia e que comentou nesta postagem antes de você. Ela existe, mas existem muitas outras Anas Claras a quem eu podeia dedicar uma poesia sem nunca ter visto o rosto. Este nome tem siginificado muito forte para mim.

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