sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Prosas que o Mundo Dá XXXII

 

A Pequena Emily

Uma menina de pele branca, olhos oblíquos e tímido sorriso sentou-se pela manhã de sexta à minha frente. Seu nome é Emily e ela quer cantar... Seu nome é Emily, como outras tantas meninas em outros mundos dentro do mundo também o são... Meu violão ressoa ao eco de uma sala de teatro, sala que também tem paredes brancas... E ela canta, como cantam os pássaros que irritam minha tentativa infeliz de dormir mais de quatro horas por noite. E ela canta. E ela é Emily... E ela não é irritante como os pássaros pequenos. Ela flutua com leveza, a sua voz pelos acordes passeando sabiamente... A pureza nos olhos da criança e a inocência temerosa das palavras... Como os traços singelos e a simplicidade da timidez e das palavras da menina atiraram ao abismo tudo o que parecia mais triste... Como o céu em cinzas de vulcões estrangeiros, nublado e sem vida, de repente ganha cor no universo de uma criança... Como é possível, se é que um Deus existe, deixar que tantos pequenos cresçam sozinhos e tristes? Como é possível que tantos seres leves, doces, verdadeiros cresçam para refletir no mundo as próprias misérias? Na honestidade um momento, respiro melhor... A doce, pequena, verdadeira, sincera, tímida Emily... está ali. Uma mão pequena segurando a outra... Olhando-me com o rosto inclinado, ela canta baixinho, num quase sussurro... Envergonhada ela acompanha o violão, não perde os tempos, não erra as palavras e como as articula bem... Um universo de encanto se abre e uma esperança de mundos paralelos onde ainda haja poesia também... Emily, menina Emily... Quanto tempo os adultos cruzarão o rio atrás de água, meu bem? Quanto tempo pequena Emily? Se te dessem o mundo nas mãos você poderia ser mais justa do que estes tantos adultos? Será, criança? O vestido da pequenina é branco e tem saia rodada. Ela tem trança que se inclina nos cabelos de castanho escuro... A harmonia das imagens é tão leve, tão simples, tão dela... E ela é tão livre, tão leve, tão limpa... Flores pequenas perfumam a moldura do rosto... A menina olha nos olhos, seu olhar é gracioso, puro, simples como pequenas gotas de chuva, que em tempo de seca, fazem a primavera primeira na secura do solo... Chove primavera em mim...


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