sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Três Pontos Negros VII


Entre  Denúncia e Rendição...

Um ponto de interrogação... Um homem solto de encontro ao espaço pede silêncio, mas faz-se de criança e alimenta esperanças juvenis... Platônicos amores a que não me permite, embora alimente em tantas outras fracas figuras que fingem ser fortes... Fala-se de religiões, deuses, necessidades, de olhares sobre o mundo... Nas redes sociais os homens filosofam, pensam, invocam antigos heróis da escrita... Postergam-se soluções na esquina da vida, na espera do tempo... O líquido gelado machuca a alma, o líquido gelado penetra a veia, reduz a dor do espírito, carmas, cores, construções... Líquidos gelados em perigosas entrelinhas de fios azuis por onde o antigo amigo de infância perdia-se para encontrar almas que abandonaram corpos e que, talvez, nunca existissem sozinhas... Beto teve coragem de fugir, porque ficar já não lhe importava mais... Os meses correram, mas vira e mexe ainda nos vejo, crianças, lado a lado na foto, brincando de esconder na escola em construção, cuidando dos sobrinhos, retalhando sonhos para guardar na nossa amizade de pandora... Os meses passaram e passou a vontade sufocante de fugir também pelas perigosas entrelinhas de um fio azul... Ninguém entende mesmo me olhando, ninguém viu, ninguém sentiu, ninguém chorou... Um universo particular não transbordou e, então, uma flor distante que pensa saber de tudo começou a reproduzir-me de tanto olhar nesse espelho em que o reflexo sou eu... Deito a cabeça cansada em qualquer travesseiro às três da tarde, porque não gosto de falar das quinze horas... Porque pra mim era mais simples nem ter que perceber que elas existem... Detesto a prisão dos relógios e a ambiguidade do tempo... Tic-tac... O mundo gira... Tic-tac o programa de TV incomoda meus ouvidos... Tic-tac a vida passa, perde-se no tempo e termina em um sopro... Talvez, nem mesmo haja vida real... Talvez, só nos reste carros quebrados em estradas esburacadas e teatros sucateados em qualquer porto cubano da existência... Reste ao homem qualquer poesia, reste ao ausente qualquer desculpa, reste às crianças qualquer paraíso... Um livro, dois, três e tantos mais em que perco dias, pensamentos e, por certo, muitas dores... Dores de amar, de sofrer, de chorar? Não... Apenas dores, sem definições em qualquer estágio... Dores, sem mais... Sem mais curva ou estrada, horizonte reprojetado... Deve haver em algum lugar do mundo, alguém que consiga perceber que a solidão é um processo de reconhecimento, um exercício... Mas, também existirá ao mesmo tempo quem entenda o quão raro é sentir verdadeiramente qualquer coisa, quando ninguém mais se atem a algo que vai além de altos muros ou duras paredes... Se é tudo tão óbvio, por que só você não vê? Nem bem eu deito e o pesadelo já socorre o meu silêncio com suas denúncias... Algo do que há em um mago distante agora, prende meus horizontes de sonho e me impede de sonhar... Ou apenas sou eu que não já durmo, não acordo e nem mesmo vivo... Será que sou? O que eu sou? Pra você a distância pode ser um agravante, ou seja, às vezes o melhor é nem responder... Avisei dos espinhos, mas sempre existe algo deles, no que também encanta na beleza do nosso olhar: a esperança da aproximação, do toque, do espaço de amar que se abre... Correm nuvens cinzentas no céu... O que era tarde fez-se noite, oa caninos afoitos não calam os ecos da rua vazia... Fazia frio até que eu ousei trancar as janelas que te abri... Haverás de ter as chaves para quando precisar delas...

 

"E assim mergulhar no escuro, pular o muro pra onda passar".
(Duca Leindecker e Humberto Gessinger)


Esclarecimento: O Beto a que me refiro neste post é o mesmo a que me referia em http://noitesdeoutrosdias1.blogspot.com/2011/05/vinte-e-oito-anos-27052011.html e a flor também ali citada nada mais é a do que menina que também cito na mesma postagem do mês de maio. Muito grata pela paciência e compreensão.

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