domingo, 23 de outubro de 2011

Três Pontos Negros VIII

 

Mares de Amar...
Sem pressa, sem medo, sem qualquer outra condição... Eu acordo de madrugada e tomo banhos gelados, antes de sair de casa comodamente vestida, em imagem que incomodaria muitos olhares alheios... As crianças afoitas já falam alto demais para as cinco horas da madrugada... Já ligam playlists e contam piadas... Estou ali... Presente em corpo e distante em alma. Porque os carnavais todos tem um fim, mas não enxergo o horizonte em que este findará. E se o fizer sei que já estarei projetando um outro, milhas e milhas mais distante do que esse. O mais interessante é que não há um motivo específico. Só uma montoeira de situações que se juntam e se dispersam numa estranha sistemática. As crianças correm afoitas pelos parques de diversão da vida, falam muito e dizem pouco... São só crianças espontâneas, sem receios, vivas... São só crianças fazendo o seu carnaval que não tem data prevista para o início e nem data prevista para o final... Qualquer nome que eu cite trará para muitas crianças a impressão de que é delas que falo, então eu calo... Calo sempre que o silêncio for o melhor discurso... E, então, eu ouço... Ouço os sussurros distantes, as verdades incovenientes, os suspiros que se apaixonam por um dia... Minhas meninas virando mulheres, meus meninos tão maduros aos doze anos, minhas intenções distorcidas pelas visões de fora... Sou alguém que se guarda para quando o carnaval chegar, sem medo da espera, sem medo de silenciar, alguém que aprende com o tempo, alguém que acredita nele. Todo o céu cinzento deste sábado aparentemente tão alegre é só uma máscara que disfarça a própria insatisfação... O álcool visita o organismo e limpa o espírito das superfícies, porque há um universo particular em cada discurso gritado, em cada palavra silenciada e em cada gesto camuflado... Ninguém sabe quantas vezes as crianças viajaram em seus sonhos... Ninguém sabe quantas vezes eu me perdi nos meus... Projetar a vida na esquina de qualquer cidade. Eu sento no meio fio de qualquer rua e olho para o mesmo céu, que não é o mesmo dependendo do espaço que ocupa. Então, eu teria uma eternidade em minutos para perder meus pesadelos antes deles retornarem ao mesmo espaço de tempo e dores em que sempre estiveram... E dormiria novamente em suspensas saudades de abraços que chegaram a ferir de tão apertados e estaria novamente a observar o all star de algum garoto de olhos confusos e desconcertados, que me olhava com a alma ao invés de tocar-me com o corpo, matéria de se perder. Observando as pessoas, passando tão apressadas por qualquer espaço, que se olham e não se vêem e revisitar a impressão de ver além das máscaras. Por que eu teimo em falar de portas? De janelas e cortinas? Por que eu teimo em falar de máscaras? E em querer enxergá-las? Por quê? Pareço criança quanto deixo os questinamentos fugirem às páginas, fingirem ao mundo, fugirem ao espaço? Eu só quis mar da amores... Amei mais que o amor pode permitir... Mares de amor em que fui me afogando lentamente sem perceber que o fazia... Amor pela leitura, pela palavra, pela distância, pelas crianças, pelos seus sonhos, pelo ácido venenoso das opiniões... Leveza para amar o ato de esperar para sempre um alcançar de horizontes que se chega e se vai, sem deixar qualquer sinal de que ali esteve... Tardes de sábado, peles queimadas, bocas agitadas que falam sem pensar... Desmaiar de cansaço e dor ainda tão cedo é uma parte de mim que não deveria estar ali, onde está agora... Mar de amores a ser navegado... Estradas incertas... Caminhos não mapeados... Um passo de cada vez... Cada vez mais... Cada vez melhor, cada vez mais lento com o tempo que é professor, com a saudade que sempre é presente, com as crianças que sempre falam o bastante para confundir pensamentos.





Cada vez mais desesperadamente o homem procura dilatar o tempo que já não tem.
(Khalil Gibran)

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