domingo, 6 de novembro de 2011

Partes de Mim XXXV

 
 Partes De Mim

São estrelas cadentes, decadentes de sentir...
Lembranças sem cor, espelhos sem reflexo,
Poemas sem nexo,
Gotas de existir...
Parte de mim há de fugir para sempre,
disfarçar-se de indigente,
Olhar-te todos os dias da mesma rua...
Parte de mim há de tocá-lo em pele nua...
Verdade crua...
Olhar, sentir, ausentar...
Fugir...
O único verbo que me atrevo a conjugar...
Parte de mim é resultado de uma união...
Parte de mim viaja em qualquer canção...
que estremeça o pulsar..
que faça sentir mais forte a ilusão...
aquela de te sentir, a outra de te encontrar...
Parte de mim quer viajar...
E amanhã põe a mala à prova...
Parte de mim se renova...
em cada pedra que se atira...
em cada bala de perdida mira...
Parte de mim entristece em ausência...
Parte de mim nunca soube da presença
que um dia poderia existir...
Parte de mim nunca soube o que está por vir...
Partes maiores, amores, quintais...
Espinhos e pimenteiras...
Cravos, rosas e cabedais...
Parte de mim não entenderá jamais...
O que é feito da menina?
Parte de mim não mais se fascina
parte de mim sente o ausente
parte de mim fez-se descrente
e agora acha que foi manipulação
parte de mim tinha renovada sensação
hoje tem tristeza
parte de mim ainda guarda beleza
Braços se unem em longas caminhadas
findaram-se estradas
do tempo que não existiu
parte de mim
não sonhou
outra parte de mim nem dormiu
um cavaleiro distante existiu
estava ali
ao lado
docemente repousado
sobre travesseiros brancos
parte de mim lembra teu rosto em prantos
parte de mim tem vapor a abrandar
parte de mim sorri ao te encontrar
a outra parte chora
foi-se embora
a menina
foi-se embora
a moça
se ainda puderes, ouça
pouco de mim ainda quer viver
pouco que vive pra te ver
sem isto
sem mim
sem você
sem ausências
sem palavras
fios e entrelinhas
amigos de infância que se foram
estranhos passados que me visitam
sem isto tanto faz
tanto faz a vida
tanto faz poema
tanto faz abraço
tanto faz espaço
se não me apraz respirar
tanto faz escrever
tanto faz cantar
tanto faz sorrir
existir...
tanto faz pensar
consumir mil livros
tanto faz mudar
de cidade ou de país
tanto faz casar
ter um cão
tanto faz compôr meu mundo ao violão...
o chão que abre
o sentimento que não cabe
a mensagem que nunca chegou
o meu ar se acabou
e eu preciso respirar
voltar ao lar
às fontes de água pura
que nunca foram tão limpas
às palavras e doces canções
preciso lembrar das vidas
que sorriam por existires...
Queda livre em que me perco...
Destino em que em ausento
fios em que me liberto
retratos que te tenho perto...
Dou o primeiro passo
estende-se o espaço
tenho colo e cobertor
que chegou a primavera
mas o outono ainda causa arrepio
que existe um mundo além do mundo
mas sem ti tudo é vazio...

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