quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

As cartas que não mando III

 

Manoel,

Veja bem, é desde sempre que eu o espero. Tem gente que nasce com sinais pelo corpo, gente que nasce com olhos coloridos que vão empretecendo ao longo do tempo, gente que tem marcas na pele, mas eu não tive nada disso, só nasci destinada a você. Certeiro e determinante é o meu destino. Não posso fugir, nem quero. E essa é a pior verdade. Tudo o que quero está contido nos espaços que já ocupamos juntos, na letra que se repete em nosso nome, nas canções que gostamos por igual, na sua lágrima tão salgada quanto a minha.

Ouça bem, me desafie. Me faça virar covarde e desviar os olhos. Duvido muito, amor. Erga seu semblante e me ordene dizer quantos argumentos você quiser. Darei. Mas você sabe que argumentos nunca são suficientes para convencer um coração. Então não me peça para ser apenas um peso, não me obrigue a cansar seus ouvidos. Porque eu queria que não precisasse de explicação.

Eu não tenho rota de saída e eu sou mais fraca porque você não percebeu. Mas tem um enigma enorme aqui dentro e você deveria ser meu descobridor. Você deveria tirar meu véu, revirar meus segredos, se embrenhar em meu amor. Tudo o que é meu conta os segundos para ver você chegar, para que tome nas mãos o que naturalmente foi destinado a você.

Quando você me abraçar com a alma, estará livre da cegueira. Em mim mora a certeza, repleta ou vazia de argumentos, de que nada mais nos aguarda. Veja, meu bem, a imensidão do mundo está à sua frente, assim como esteve para mim dias atrás. Mas eu não quis. Nem pude. Os meus olhos são seus. E eu vim inteirinha acompanhando.

Meus olhos amam os seus.

Apaixonadamente,

Pauline.


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