terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Eis Um Pequeno Fato: Você Vai Morrer



Em Nome da Honra – parte 1

Pule. Isso, vamos logo.
Já não tinha mais noção do acontecia. O ar rarefeito parecia fechar meus pulmões; o frio gelara meu rosto. Podia sentir a morte entrar pelos meus ouvidos, sussurrando aquelas palavras de incentivo. Sua mão repousava em meu ombro, apoiando. Seria realmente necessário? 
Ande, sabe que precisa. Nascestes destinada a mim. 

No berço já nos são cantadas músicas sobre sermos tirados de nossas mães ou de estarmos abandonadas enquanto criaturas nos cercam ao dormirmos. Se já raciocinascemos, teriamos ideia do que viria dalí a diante. Nada no mundo ao nosso redor tem como base a lealdade ou solidariedade. Comigo não foi diferente, só paguei até meu último minuto o preço de todas as minhas más escolhas.

Não tinha muita conciência do quanto gastava ou do que fazia. Estudava numa faculdade cara, frequentava clubes e restaurantes conceituados e vestia-me a altura do meu modo de vida. Pensava no dinheiro como uma fonte inesgotável. Na verdade, nem sabia com o que meu pai trabalhava, só estava satisfeita com seu salário. Se houvesse ao menos um pouco de interesse de como pagavam meu saldo do cartão de créditos, saberia que não sairiamos bem disso, e agora vejo que a teoria de Maquiavel havia um furo, pois os fins poderiam até justificar os meios, mas o que nos sobra depois disso é irremediável.

Assim que me formei, resolvi traçar o que já havia sido planejado pra mim: assumir a hierarquia Gert. Mas não comecei pelo topo; primeiro, era secretária do meu pai e ajudava-o nas transações finaceiras. Fui ganhando sua confiança e a dos seus sócios. Trabalhava árduamanete, coisa que nunca me imaginei fazendo. Esforçava-me ao máximo para que tudo que pusesse as mãos desse certo. Mudei todos os meus hábitos; já não tinha mais a delicadeza de antes, as horas a fio trancada diante de uma tela me tornaram fria, ainda mais capaz de tudo por dinheiro. Depois de quase dois anos sem promoção, tive a maior de todas: direto para a mesa presencial. Meu pai já não tinha mais condições de comandar algo tão grande.

Meu futuro já estava pré-definido. Mal sabia que ele seria baseado no tráfico. Quando percebi de onde saia os fundos para os investimentos da impresa, já estava mergulhada até o pescoço naquela farsa. Nada que eu fizesse ia me tirar do lugar que me situava: chefe do crime organizado de Miami. O que eu poderia fazer depois disso? Apenas continuar com o serviço. E foi essa minha vida, pelo ao menos até agora.

Durante uma festa beneficente, tudo que havia sido escondido por quase um século estava prestes a vir a tona, e eu precisava intervir. Se caíssemos, o sistema todo viria à baixo. E esse é o motivo de ter feito tudo que fiz: precisava tomar frente aos danos iminentes daquele deslize. Proteger a instituição que manteve minha família por tanto tempo. É meu dever e prazer. Para continuar esse legado, seria capaz de tudo, até mesmo sacrificar minha liberdade. Em honra aos Gert e a todos os que dependiam de mim, respondi a pergunta que para todos parecia retórica: 

_ Sou eu a culpada.

Minutos depois, a única coisa no meu campo de visão eram barras de metal.

 Continua...

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