quarta-feira, 9 de maio de 2012

Maio...

Vivo em um tempo que não é meu. Confundem-me as rosas, embora não me conforte o amor. Tenho vontades, carências, saudades, mas não tenho nada, porque o mundo não é meu. Nem meu ego, nem meu egoísmo te compensam. Tenho vontades, tenho saudades, egoísmos de tanto ter. Somos fronteiras que se romperam, estrelas que se perderam... Somos sem nunca ter sido... Flor de laranjeira, folha ao vento, pele macia... Sertão em flor, certeza e dor em uma mesma canção. Fazemos cálculos nem tão exatos de economias domésticas que esbarram em doenças incuráveis sem intenção. Dor, sensação, certeza, saudade... Se essa palavra se repete por mais um verso da poesia sem rima em que descrevo esta confusão, ninguém entende. Se são palavras, se são gestos ou se não é nada disso, como haveremos de perceber, estamos nos perdendo tentando encontrar algo em que valha a pena acreditar. Ninguém sabe do que falamos, do que falei ou do que falávamos. Estão todos cegos e a fila leva ao desfiladeiro. As pedras pontiagudas receberão os menos despertos. De quem é culpa? De quem é a cura? Quem alcança os pontos mais altos da montanha gelada em que se escondem as vidas? Sempre é maio, quando faz outono. Ninguém pára pra reparar que algumas flores desabrocham, mesmo não sendo primavera. Ninguém se esforça pra compreender os sorrisos indiferentes às manhãs de frio sucedidas por tardes de intenso calor nos países tropicais. A bem da verdade, muito bem me faria trocar todo este calor destas tardes por noites frias. Fazia lua há dias, cheia e tão grande quanto jamais se verá nesse ano... Quem percebeu o que acontecia? Quem perceberia se não fizessem tanta propaganda? Sou fruto de um tratado coletivo. Convenção. Quem não é? Compra-se? Vende-se? Troca-se? Propaga-se o que é vazio... Quem compra? Quem vende? Quem imita? Quem é mesmo o dono de quem? Era isto que a canção questionava? Nem sei mais. Ninguém sabe. As verdades vão se transformando. Ontém, hoje, amanhã... Verdades, meias verdades e, então, assustadoras mentiras... A verdade: um ponto de vista... O outono e algumas constatações... Tardes de intensos ruídos e coração silencioso a confrontar as palavras nervosas de uma mente que não pára.

2 comentários:

  1. Texto incrível e intenso.
    Parabéns Darla

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    1. Enxergas no que escrevo aquilo que está em você. Este é um jogo de espelhos...

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